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Artigo da Universidade Kim Il Sung analisa as consequências catastróficas da chamada "revolução colorida" nos países árabes


Diante dos recentes acontecimentos na Síria, onde o governo de Bashar al-Assad foi derrubado por forças terroristas em conluio com as potências imperialistas, compartilhamos com os leitores de nosso site um interessante artigo acadêmico escrito por Chong Kwang Son, professor associado da Universidade Kim Il Sung. No artigo, o autor apresenta uma análise importante e instigante sobre o fenômeno das chamadas "revoluções coloridas" nos países árabes.


Os trágicos acontecimentos que culminaram na destruição da República Árabe da Síria ensinam aos povos, mais uma vez, que, sem uma ideologia orientadora correta, baseada nos princípios fundamentais do socialismo científico; sem uma liderança política adequada que garanta a unidade monolítica de toda a nação; e sem a plena realização dos princípios da independência no âmbito da política, defesa e segurança nacional, os países e povos tornam-se vulneráveis às ameaças de desestabilização e destruição nacional promovidas pelo imperialismo e seus lacaios internos.


CENTRO DE ESTUDOS DA IDEIA JUCHE - BRASIL



As Consequências Catastróficas das "Revoluções Coloridas" nos Países Árabes e Suas Lições*


Chong Kwang Son, Professor Associado da Universidade Kim Il Sung


1. Introdução


O Estimado Líder Supremo Kim Jong Un afirmou:"Os imperialistas estão fomentando e agravando a desconfiança e os conflitos entre países e nações que aspiram à independência, criando inimizades para impedir que se unam. Eles interferem nas questões de disputa entre nações e regiões, tornando-as ainda mais complexas."


Atualmente, as manobras de agressão e interferência das forças imperialistas e dominacionistas resultaram na violação brutal da soberania de Estados independentes em todo o mundo. Isso tem levado a guerras e conflitos incessantes, ameaçando gravemente a paz e a segurança globais.


No mundo árabe, as manobras de invasão e interferência dos imperialistas deram origem à chamada "Primavera Árabe", conhecida como "revoluções coloridas". As "revoluções coloridas" que ocorreram nos países árabes derrubaram governos na Tunísia, Líbia e Egito, enquanto movimentos violentos antigovernamentais continuam na Síria e no Iêmen.


Além disso, o agravamento da insegurança social e da desordem na região resultou na maior crise de refugiados da história, o que gerou grande preocupação na comunidade internacional. Os impactos dessa crise transcenderam os limites do mundo árabe, estendendo-se para áreas vizinhas, afetando negativamente a paz e a segurança globais.


Encontrar lições nesses acontecimentos anormais é uma questão crucial para evitar a ampliação de catástrofes, como a crise de refugiados, defender a paz e a segurança mundiais e construir um novo mundo próspero.


As lições deixadas pela tragédia das "revoluções coloridas" no mundo árabe são de grande importância para que os membros do Partido e os trabalhadores, especialmente a nova geração, cultivem profundamente o orgulho e a confiança no poder da nossa unidade monolítica. Isso os inspira a avançar, cheios de otimismo e confiança na vitória, na construção de uma potência socialista.


Este artigo busca esclarecer as consequências e lições das "revoluções coloridas" ao analisar seu início, desenvolvimento e causas nos países árabes.


2. Desenvolvimento


2.1 O Início e o Processo das "Revoluções Coloridas" nos Países Árabes


As "revoluções coloridas" no mundo árabe começaram no final de 2010, na Tunísia. O evento que deu início ao movimento foi o incidente de autoimolação de um jovem em uma cidade pequena daquele país.


Em 17 de dezembro de 2010, na cidade de Sidi Bouzid, localizada cerca de 260 km ao sul da capital Túnis, um jovem chamado Mohamed Bouazizi, de 29 anos, proprietário de uma pequena barraca de verduras, ateou fogo ao próprio corpo em protesto contra a repressão policial a suas atividades consideradas ilegais. O vídeo desse ato foi publicado na internet, gerando uma série de artigos e manifestações antigovernamentais promovidas por jovens tunisianos na rede. Em resposta, um grande movimento de insurreição popular irrompeu. (The Economist, 9 de janeiro de 2016, página 38).


O presidente da Tunísia, Ben Ali, ordenou ao exército que reprimisse os protestos, mas o comando militar recusou a ordem, recomendando que ele renunciasse ao cargo de presidente. Sob intensa pressão interna e externa, em 14 de janeiro de 2011, Ben Ali, que havia governado por 23 anos, fugiu para o exílio.


As notícias sobre os distúrbios e seus resultados na Tunísia se espalharam rapidamente por toda a região árabe por meio da internet e outros meios de comunicação, mergulhando o mundo árabe em um estado de caos generalizado. Após a queda do regime de Ben Ali, em 14 de janeiro, protestos exigindo a renúncia do presidente Ali Abdullah Saleh começaram no Iêmen em 22 de janeiro. Em 11 de fevereiro, o regime de Hosni Mubarak, no Egito, também foi derrubado.


Logo depois, em 15 de fevereiro, manifestações antigovernamentais começaram em Benghazi, a segunda maior cidade da Líbia. Em 17 de março, o Conselho de Segurança da ONU adotou uma resolução autorizando o uso de força militar contra a Líbia. Em 19 de março, forças da OTAN lideradas pelos Estados Unidos, Reino Unido e França iniciaram ataques aéreos contra a Líbia. Em 23 de agosto, as forças rebeldes líbias, com o apoio da OTAN, ocuparam a capital Trípoli, e em 20 de outubro, o presidente Muammar Gaddafi foi morto por rebeldes.


No Iêmen, em 3 de junho, ataques de artilharia ao palácio presidencial feriram gravemente o presidente, obrigando-o a se refugiar na Arábia Saudita. Em 23 de novembro, sob forte pressão, Saleh assinou um acordo de transferência de poder (Sankei Shimbun, 25 de novembro de 2011).


Na Síria, manifestações antigovernamentais começaram em março de 2011, na cidade de Daraa, seguidas por confrontos sangrentos e contínuos entre as forças do governo e os rebeldes. Além disso, protestos antigovernamentais liderados por xiitas ocorreram frequentemente em outros países árabes, como Argélia, Arábia Saudita, Kuwait e Bahrein, contribuindo para a instabilidade da região.


O processo das "revoluções coloridas" nos países árabes pode ser resumido da seguinte forma:


Tunísia


  • Dezembro de 2010: Protestos liderados por Mohamed Bouazizi.

  • Janeiro de 2011: Exílio do presidente Ben Ali e formação de um governo interino.

  • Outubro de 2011: Primeiras eleições realizadas; o partido islâmico Ennahda conquistou a maioria no parlamento.

Egito


  • Janeiro de 2011: Distúrbios em Cairo contra o regime de Mubarak.

  • Fevereiro de 2011: Renúncia do presidente Mubarak.

  • Junho de 2012: Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, eleito presidente.


Líbia


  • Fevereiro de 2011: Protestos contra Gaddafi começam em Benghazi.

  • Março de 2011: Forças da OTAN bombardeiam a força aérea líbia.

  • Agosto de 2011: OTAN e rebeldes ocupam Trípoli.

  • Outubro de 2011: Morte de Gaddafi.

  • Julho de 2012: Grupos independentes conquistam a maioria no parlamento.


Iêmen


  • Janeiro de 2011: Manifestações contra a reeleição do presidente Ali Abdullah Saleh.

  • Março de 2011: A Al-Qaeda na Península Arábica ocupa quase toda a região de Al-Muhassiyah.

  • Novembro de 2011: Saleh transfere poder ao vice-presidente Abd-Rabbu Mansour Hadi e deixa o país.

  • Fevereiro de 2012: Hadi é eleito presidente.


Síria


  • Março de 2011: Protestos antigovernamentais começam em Daraa.

  • Maio de 2012: Rebeldes atacam Alepo, a segunda maior cidade do país.

  • Agosto de 2012: Divisão em Alepo, com o governo iniciando bombardeios contra os rebeldes. (The Economist, 9 de janeiro de 2016).


Como resultado das "revoluções coloridas", regimes de longa data na Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen foram derrubados em um curto período, e a instabilidade política se espalhou para países como Síria, Bahrein, Arábia Saudita e outros na região.


2.2 As Causas das "Revoluções Coloridas" nos Países Árabes


Atualmente, a imprensa e as emissoras ocidentais têm apontado insistentemente que as causas do grande caos no mundo árabe seriam a corrupção e os regimes "não democráticos" de longa duração em países como Tunísia, Egito, Líbia e Síria. Além disso, alguns analistas avaliam que as condições econômicas precárias desses países, particularmente a crise alimentar, a alta taxa de desemprego entre os jovens e os conflitos religiosos e étnicos tradicionais, seriam os principais fatores.


Essas alegações são uma afronta à justiça e à consciência humanas, além de representarem um grande engano. As "revoluções coloridas" nos países árabes não foram provocadas apenas por problemas internos dessas nações.


A principal causa das "revoluções coloridas" nos países árabes reside nas políticas de interferência e agressão política, econômica e militar dos imperialistas, que visavam ocupar a todo custo esta região estratégica, tanto em termos militares quanto de recursos. Desde tempos antigos, os imperialistas têm utilizado métodos de invasão vis e cruéis para dominar a região árabe, que possui grande importância estratégica política, militar e econômica. Após o fim da Guerra Fria, essas ações se intensificaram ainda mais.


Depois do fim da Guerra Fria, os imperialistas elaboraram planos de invasão, como o "Processo de Barcelona", com o objetivo de impor a democracia ocidental nos países árabes, e realizaram campanhas persistentes nesse sentido. De acordo com esses planos, os países ocidentais pressionaram os países árabes a realizar reformas políticas internas que ampliassem a "democracia liberal", prometendo em troca mais "ajuda" econômica.


Além disso, intensificaram esforços para infiltrar ideologias e culturas burguesas decadentes por meio de tecnologias da informação, como Twitter e Facebook, e diversos materiais de propaganda. Eles exageraram e divulgaram amplamente casos de corrupção entre autoridades locais, fomentando o descontentamento popular contra os governos desses países.


Os imperialistas também exploraram conflitos étnicos e religiosos preexistentes na região, agravando-os para criar situações de instabilidade. Posteriormente, forneceram apoio político, econômico e militar às forças antigovernamentais e, finalmente, sob o pretexto de "mediação de conflitos" e "defesa dos direitos humanos", envolveram diretamente forças da OTAN, promovendo a derrubada de governos.


Outra causa das "revoluções coloridas" nos países árabes foi a incapacidade dessas nações de fortalecer plenamente sua força política, econômica e militar.


Após a Segunda Guerra Mundial, a maioria dos países árabes conquistou a independência nacional, mas não conseguiu formular e implementar políticas adequadas à sua realidade. Especialmente após o fim da Guerra Fria, frente às mudanças no cenário internacional, esses países não estabeleceram uma posição independente firme e cederam às pressões dos países ocidentais, abandonando seus próprios modelos políticos. Como resultado, conflitos religiosos e étnicos de longa data se agravaram, levando a situações violentas.


Além disso, os países árabes não conseguiram construir uma base econômica autossuficiente capaz de resistir às crises econômicas globais. Apesar de proclamarem o desenvolvimento de uma economia nacional independente após a independência, não eliminaram completamente os sistemas econômicos coloniais desiguais, nem construíram economias adaptadas às suas condições específicas. Muitos desses países continuaram a depender economicamente de suas antigas potências coloniais, priorizando benefícios de curto prazo.


Na prática, a economia dessas nações continuou baseada na indústria petrolífera, sem que houvesse uma diversificação estrutural. Pior ainda, a produção e comercialização de petróleo dependiam amplamente de tecnologias e empresas ocidentais. Como consequência, setores como a agricultura permaneceram subdesenvolvidos, e os países árabes, presos à antiga ordem econômica internacional imposta pelos imperialistas, viram seus recursos valiosos serem explorados a preços irrisórios.


Quando crises econômicas globais, como a crise alimentar, ocorreram, o desemprego e a pobreza se espalharam, aumentando o descontentamento popular contra os governos e desencadeando episódios de violência.


Outro fator foi a incapacidade dos países árabes de fortalecer suas capacidades de defesa nacional. Devido à sua localização geopolítica e aos recursos estratégicos, os países árabes foram alvo frequente de agressões por parte das grandes potências imperialistas. No entanto, esses países não prestaram a devida atenção ao fortalecimento de sua defesa nacional.


Em vez de desenvolver uma indústria de defesa nacional robusta, preferiram equipar suas forças armadas com armamentos comprados de outros países, utilizando os lucros provenientes de seus ricos recursos petrolíferos. Essa abordagem simplista deixou-os vulneráveis a ataques armados das forças antigovernamentais e à interferência militar direta dos imperialistas, resultando na violação brutal de sua soberania nacional.


2.3 As Consequências das "Revoluções Coloridas" nos Países Árabes


As "revoluções coloridas" que varreram a região árabe resultaram em consequências catastróficas para os países afetados.

Primeiramente, as "revoluções coloridas" mergulharam a situação política dessas nações em um estado de completo caos. Na Tunísia, embora o partido Ennahda, de orientação islâmica, tenha conquistado a maioria dos assentos no parlamento nas eleições de outubro de 2011, os conflitos pelo poder com os partidos de oposição continuaram incessantemente. Em fevereiro de 2013, o líder oposicionista Chokri Belaid foi assassinado, o que gerou uma crise política que levou o Ennahda a se retirar do parlamento. Apesar das eleições parlamentares realizadas novamente em outubro de 2014, que resultaram na vitória do partido moderado Nidaa Tounes e na eleição de Mohamed Beji Caid Essebsi como presidente, o cenário político permaneceu instável (The Economist, 9 de janeiro de 2016).


No Egito, após a queda do regime de Mubarak, o líder do Partido Liberdade e Justiça, filiado à Irmandade Muçulmana, Mohamed Morsi, foi eleito presidente por meio de eleições. No entanto, um golpe militar em julho de 2013 derrubou seu governo em menos de um ano, e as atividades da Irmandade Muçulmana foram banidas. Posteriormente, em maio de 2014, Abdel Fattah el-Sisi, um ex-militar, venceu as eleições presidenciais. Embora as forças que o apoiavam tenham conquistado a maioria dos assentos nas eleições parlamentares de dezembro do ano seguinte, a situação política do país continuou instável.


A Líbia foi o país que enfrentou o maior grau de caos político após as "revoluções coloridas". Embora o governo de transição tenha declarado o fim da guerra civil e prometido realizar eleições gerais em um ano para estabelecer um novo governo, conflitos de interesses entre tribos, seitas e outras facções perpetuaram a instabilidade política. As eleições de julho de 2012 elegeram a Aliança das Forças Nacionais como o maior partido, mas disputas internas entre facções impediram a formação de um governo coeso. Ocorreram frequentes mudanças de primeiro-ministro, além de um incidente em novembro de 2013, quando o presidente foi sequestrado por forças opositoras.


Em 2014, grupos armados islâmicos começaram a intensificar suas atividades em várias partes do país, incluindo a ocupação do aeroporto internacional de Trípoli e de instalações petrolíferas, o que levou ao colapso do governo. Apesar da realização de eleições parlamentares em junho de 2014 e da formação de um novo parlamento, facções opositoras rejeitaram o resultado. Em agosto de 2014, grupos armados atacaram Trípoli, forçando o novo parlamento a se deslocar para Tobruk. Aproveitando o caos político, forças extremistas como o Estado Islâmico estabeleceram zonas de controle em várias regiões, incluindo as cidades de Derna e Sirte, onde instalaram estruturas administrativas próprias (The Economist, 9 de janeiro de 2016).


No Iêmen, após a queda do regime de Saleh, o governo de Abd-Rabbu Mansour Hadi, eleito em fevereiro de 2012, enfrentou grandes dificuldades. Em agosto de 2014, protestos contra cortes nos subsídios ao combustível forçaram Hadi a renunciar. Em setembro do mesmo ano, rebeldes ocuparam quase toda a capital, Sanaa, obrigando Hadi a fugir para a cidade de Aden, no sul do país (The Economist, 9 de janeiro de 2016).


No Bahrein, governado pelo rei sunita Hamad, protestos começaram em 14 de fevereiro de 2011, com a maioria xiita da população exigindo mais direitos políticos.


Durante a repressão aos protestos, mortes ocorreram, o que ampliou as manifestações. Para conter a crise, o governo do Bahrein libertou 23 políticos xiitas presos e propôs diálogos, mas sem sucesso. À medida que a situação piorava, o rei substituiu quatro ministros, incluindo dois membros da família real, como parte de uma política de apaziguamento. Apesar disso, os protestos continuaram (Overseas Information, 1º de março de 2011).


No Kuwait, manifestações ocorreram em 8 de março, exigindo a renúncia do primeiro-ministro e mais liberdade de imprensa. Mesmo na Arábia Saudita, onde os protestos eram completamente proibidos por lei, manifestações começaram em 10 de março de 2011 e se espalharam por várias partes do país (The Economist, 29 de março de 2011).

Todos esses protestos antigovernamentais foram acompanhados de derramamento de sangue, resultando na perda de inúmeras vidas.


No estágio inicial das "revoluções coloridas", já havia um grande número de vítimas fatais. O governo egípcio anunciou que pelo menos 846 cidadãos perderam suas vidas durante as três semanas de protestos que ocorreram no início de 2011. O governo líbio também informou que, durante a guerra civil, o número total de mortos de ambos os lados ultrapassou 30 mil. No Iêmen, o governo declarou que cerca de 2 mil pessoas morreram durante os protestos que exigiam a renúncia de Saleh. Na Síria, onde os conflitos internos foram particularmente intensos, muitos perderam a vida; segundo um relatório da ONU, aproximadamente 9 mil civis foram mortos entre o final de março e junho de 2012 (Foreign Policy, 30 de junho de 2012).


Esses eventos demonstram que as "revoluções coloridas" mergulharam a situação política do mundo árabe em um estado de calamidade total.


Além disso, as "revoluções coloridas" tiveram consequências devastadoras para a economia dos países árabes. Na Tunísia, onde o movimento começou, a receita gerada pelo turismo — que representa uma grande parte da renda nacional — caiu pela metade em 2012 em comparação ao ano anterior (The Economist, 6 de março de 2012).


No Egito, enquanto o PIB havia crescido 5,1% em 2010, o crescimento em 2011 foi de apenas 1,2% (Foreign Policy, 30 de junho de 2012). Em particular, o setor de turismo, que representa cerca de 10% do PIB, sofreu uma redução de aproximadamente 30% em relação ao ano anterior. A taxa de desemprego também atingiu 11,9% em novembro de 2011, o pior nível dos últimos dez anos (The Economist, 6 de março de 2012).


Em 2012, a dívida pública do Egito alcançou 270 bilhões de dólares, equivalente ao PIB do país, enquanto as reservas em moeda estrangeira caíram para 15 bilhões de dólares. Até outubro de 2013, o capital ocidental havia deixado o Egito, e tanto a Europa quanto os EUA suspenderam a ajuda financeira. Cerca de 59 hotéis de luxo fecharam suas portas, e lugares icônicos como as pirâmides de Gizé e as atrações turísticas de Luxor sofreram uma queda de 80% no turismo (Contemporary International Relations, 1º de janeiro de 2014, página 23).


Na Líbia, o valor das exportações de petróleo caiu 40% em 2011, resultando em uma perda de mais de 60% no PIB do país (Foreign Policy, 30 de junho de 2012). Apesar de a produção de petróleo, que representa 90% das receitas de exportação, ter sido retomada, ela ainda não atingiu os níveis anteriores às "revoluções coloridas" (The Economist, 6 de março de 2012).


O Iêmen também sofreu grandes impactos econômicos. Antes da "revolução", a ONU previa um crescimento econômico de 3,4% para 2011, mas o resultado foi o oposto. De acordo com o FMI, o PIB do Iêmen diminuiu 0,5% em 2012. Durante o início das revoluções, mais de 500 mil iemenitas ficaram desabrigados, cerca de 1 milhão de crianças menores de cinco anos sofriam de desnutrição, e 250 mil estavam em risco de morte por fome. Cerca de 55% da população vivia abaixo da linha da pobreza, enquanto 10 milhões enfrentavam insegurança alimentar, incluindo 5 milhões em uma situação de extrema gravidade. Além disso, mais de 50% dos jovens estavam desempregados (Foreign Policy, 30 de junho de 2012).


Na Síria, até outubro de 2011, as perdas econômicas já somavam 6 bilhões de dólares (Foreign Policy, 30 de junho de 2012). Sanções econômicas impostas pela Europa, EUA e Turquia agravaram a situação, resultando em sérias crises de energia e combustíveis na capital, Damasco (The Economist, 6 de março de 2012).


Até o primeiro semestre de 2013, as perdas econômicas totais sofridas pelos países do Norte da África e do Oriente Médio devido às "revoluções coloridas" foram estimadas em 55 bilhões de dólares. Os investimentos diretos nos países árabes caíram 17% em 2013 (Pravda Vostoka, 9 de junho de 2013).


As "revoluções coloridas" também causaram uma crise humanitária de refugiados sem precedentes. Em junho de 2017, o número total de refugiados em todo o mundo, deslocados por guerras e desastres naturais, chegou a 21,7 milhões, enquanto 45 milhões eram deslocados internos (Relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, 20 de junho de 2017). Entre eles, os refugiados provenientes do Oriente Médio e do Norte da África, gerados pelas "revoluções coloridas", atingiram números sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial.


De acordo com a Frontex, até 13 de fevereiro de 2011, 116 embarcações transportando 5.526 migrantes tunisianos chegaram à ilha de Lampedusa, na Itália. No final de março, o número de migrantes tunisianos na ilha, que tem apenas 4.500 habitantes locais, superou 18.500 (Tendências no Desenvolvimento da Política da União Europeia para o Norte da África e Oriente Médio, Contemporary International Relations, 1º de abril de 2011).


A Síria foi o país mais afetado pela crise de refugiados. Em maio de 2012, a ONU relatou que cerca de 500 mil sírios haviam abandonado suas casas, com mais de 150 mil refugiados fugindo para países vizinhos como Jordânia, Líbano e Turquia. Até junho de 2016, a ONU apontou que a Síria tinha 4,9 milhões de refugiados, o maior número entre todos os países do mundo. Em junho de 2017, o número de refugiados sírios que fugiram para outros países chegou a 5 milhões, enquanto outros 6,3 milhões eram deslocados internos (Relatório sobre Tendências Globais de Deslocamento Forçado em 2016, UNHCR, 20 de junho de 2017). Isso significa que quase metade da população da Síria, estimada em 23,7 milhões em 2010, era composta por refugiados ou deslocados internos.


As consequências catastróficas das "revoluções coloridas" no mundo árabe não se limitaram a essa região. Refugiados da Síria e de outros países árabes fugiram para países vizinhos, como Turquia, Líbano e Jordânia, e atravessaram o Mediterrâneo rumo à Europa. Em 2015, mais de 1 milhão de refugiados cruzaram o Mediterrâneo para a Europa, quatro vezes mais do que no ano anterior (Rodong Sinmun, 29 de fevereiro de 2016). Mesmo após 2016, o fluxo de refugiados para a Europa continuou. Apesar de enfrentarem discriminação e desprezo, e de tragédias como o naufrágio de embarcações precárias, os refugiados continuaram tentando chegar à Europa. Em 2015, 3.675 refugiados morreram no Mediterrâneo, número que subiu para 7.448 em 2016 (Uma Crise Global de Refugiados em Estatísticas, 30 de janeiro de 2017, página 15).


O influxo de refugiados trouxe um enorme fardo para os países europeus. Essas nações enfrentaram questões sobre como fornecer alimentos, moradia, assistência médica, educação e oportunidades de emprego aos refugiados, resultando em diversos problemas complexos.


Um exemplo notável ocorreu em 2015, quando o governo do estado da Baviera, na Alemanha, enviou um "ultimato" à chanceler Angela Merkel, afirmando que, se o governo federal continuasse permitindo a entrada massiva de refugiados no país, eles se encontrariam "no tribunal". Os serviços de inteligência alemães alertaram que havia um rápido aumento de extremistas religiosos no território, com organizações extremistas, incluindo o Estado Islâmico, potencialmente recrutando combatentes entre os refugiados (Xinhua, 21 de outubro de 2015).


Além disso, muitos países membros da União Europeia, como Polônia e Hungria, expressaram oposição às políticas de alocação compulsória de refugiados impostas pela união, o que agravou os impactos negativos na operação normal do bloco. A crise dos refugiados chegou ao ponto de ameaçar a própria existência da União Europeia. As divergências sobre como lidar com a crise contribuíram para que o Reino Unido anunciasse, em 2016, sua decisão de se retirar da União Europeia.


2.4 As Lições Deixadas pelas "Revoluções Coloridas"


A realidade dos países árabes que foram levados a crises catastróficas pelas "revoluções coloridas" traz lições profundas.


A primeira lição é que, para proteger a soberania nacional e alcançar a paz e a prosperidade, não se pode nutrir ilusões ou expectativas em relação aos imperialistas.


É essencial manter uma posição independente em todas as esferas políticas.


Os imperialistas alegaram que os sistemas de partido único nos países árabes não garantiam liberdade e democracia, pressionando-os a adotar modelos políticos ocidentais. Usaram promessas de "ajuda" econômica como isca para cooptar essas nações. Essas manobras se intensificaram particularmente no período pós-Guerra Fria.

Nesse contexto, não apenas países pró-Ocidente, mas até mesmo nações árabes com sentimentos antiocidentais mais fortes, como Argélia e Líbia, começaram a alimentar expectativas sobre a democracia liberal ocidental e a dependência das "ajudas" imperialistas. Como resultado, adotaram o sistema multipartidário, modelo de organização política burguês no qual várias forças disputam participação no governo.


No entanto, o multipartidarismo trouxe instabilidade. Em vez de consolidar governos estáveis, resultou em frequentes rivalidades entre partidos, como visto no Egito, que foi o primeiro país árabe a adotar o sistema em 1981, seguido pela Tunísia em 1988 e pela Argélia em 1989. Países como Marrocos, Sudão e Mauritânia também implementaram o multipartidarismo.


Com isso, nações como Egito, Marrocos, Argélia e Tunísia passaram a enfrentar conflitos políticos. Na Argélia, por exemplo, protestos violentos resultaram na dissolução do parlamento e na tomada de poder pelos militares. Essa instabilidade política alimentada pelo multipartidarismo intensificou-se no século XXI, culminando nas "revoluções coloridas", que trouxeram consequências devastadoras para a região.

A segunda lição é que os países e povos devem superar diferenças ideológicas, religiosas e culturais, unindo-se firmemente em torno de um objetivo comum de defesa nacional.


Os países árabes têm enfrentado, há muito tempo, sérios conflitos entre xiitas e sunitas, bem como entre nacionalistas seculares e islamistas fundamentalistas. Os confrontos entre xiitas e sunitas, com raízes históricas de mais de mil anos, continuam a dividir sociedades árabes. Por exemplo, no Bahrein, onde 70% da população é xiita, há grande descontentamento com o favorecimento governamental aos sunitas, que controlam o poder. Na Síria, onde os alauítas, uma minoria xiita representando 10-15% da população, controlam o governo, os sunitas, que compõem 74% da população, lideram movimentos antigovernamentais (The National Interest, 1º de maio de 2012).


Além disso, governos dominados por uma seita frequentemente reprimem a oposição, recorrendo até à intervenção de forças externas. Por exemplo, em 14 de março de 2012, o governo do Bahrein utilizou as forças conjuntas do Conselho de Cooperação do Golfo, lideradas pela Arábia Saudita, para reprimir protestos xiitas.


Os conflitos entre nacionalistas seculares e islamistas fundamentalistas também têm causado divisões no mundo árabe. Governos seculares restringem constantemente o avanço de grupos fundamentalistas, exacerbando as tensões. As guerras civis na Síria e no Iêmen são exemplos claros dessas divisões.


Esses conflitos religiosos, étnicos e ideológicos, profundamente enraizados, tornaram as sociedades árabes vulneráveis à manipulação imperialista. Os imperialistas exploraram essas divisões para apoiar movimentos antigovernamentais e instalar regimes pró-Ocidente, o que acabou levando às consequências desastrosas das "revoluções coloridas".


A terceira lição é que a penetração ideológica e cultural promovida pelos imperialistas nunca deve ser permitida. É crucial despertar a consciência popular, especialmente entre os jovens, contra qualquer ilusão ou fascínio pela cultura imperialista.


A infiltração ideológica e cultural desempenha hoje um papel central nos esforços imperialistas de dominação global. No caso dos países árabes, essas manobras se intensificaram após o fim da Guerra Fria e no início do século XXI. Por meio de ferramentas como a "Alhurra" (rede de mídia ocidental) e plataformas de redes sociais como Twitter e Facebook, os imperialistas disseminaram estilos de vida burgueses decadentes e corrosivos nas sociedades árabes.


No entanto, os países árabes falharam em se opor de maneira eficaz a essa infiltração.


Além disso, não conseguiram educar sua juventude em ideais e valores sólidos, deixando-os vulneráveis às influências externas.


Como resultado, entre os povos árabes, especialmente entre os jovens que não vivenciaram o colonialismo imperialista, foi amplamente difundida uma ilusão em relação ao mundo ocidental. Isso levou esses jovens a rejeitarem o estilo de vida tradicional árabe e a se deixarem fascinar pelo estilo de vida ocidental. Gradualmente, muitos acabaram liderando manifestações populares contra os governos.


3. Conclusão


As "revoluções coloridas" nos países árabes deixaram uma lição séria: se não se estabelecer firmemente uma posição independente na política, se não se consolidar a unidade nacional e se não se enfrentar constantemente a infiltração ideológica e cultural dos imperialistas com elevada vigilância, o destino de uma nação pode ser destruído.


Através das lições deixadas pelas "revoluções coloridas" nos países árabes, devemos gravar profundamente em nossos corações a justiça e a invencibilidade do socialismo ao estilo coreano, que avança com a bandeira da independência, baseado na unidade monolítica do partido e do povo e na força da autossuficiência.


Sob a liderança do estimado Líder Supremo, devemos nos mobilizar como um só para construir, com certeza, uma poderosa nação socialista invencível em nossa terra.


*A tradução publicada por este blog é não oficial. Qualquer erro é de responsabilidade exclusiva dos editores.


Publicado pelo Boletim de História da Universidade Kim Il Sung, Vol. 65, Nº2, 2019.


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